A abertura deste blog foi feita com a recomendação do livro O blogue de Ai Weiwei (ver publicação 28/06/2018).
Na semana passada, visitei a exposição “Ai Weiwei Raiz” em exibição na Oca, no Parque Ibirapuera em São Paulo. A mostra é a maior exposição já montada do artista e tem curadoria de Marcelo Dantas.
O artista critica a cultura chinesa, usando a arte como meio de expressão política e ideológica. Devido aos enfrentamentos com o governo chinês, o artista foi preso em 2011, ficando desaparecido durante 80 dias, e viveu em prisão domiciliar até 2015. Seu ateliê também foi destruído sem nenhum comunicado prévio. Após a devolução do seu passaporte em 2015, Ai Weiwei decidiu mudar-se para a Alemanha, onde vive até hoje. (O Reino Unido concedeu-lhe visto de apenas três semanas).
O espaço da Oca, somado às obras do artista, impressiona.
A obra “Straight”, traduzida como “Reto”, denuncia o descaso do governo chinês com relação à edificação das escolas em Sichuan – foram construídas fora do padrão exigido, com baixa qualidade. Resultado: em 2008, mais de 5 mil crianças morreram em decorrência de um terremoto na cidade. Na ocasião, o artista conseguiu quantificar o número de crianças atingidas, apesar de o governo chinês tentar abafar e omitir o caso.
Na mostra, um vídeo exibe as escolas destruídas e o processo de recolhimento dos vergalhões, além do posterior trabalho de tornar as peças retas. São 164 toneladas de ferros retorcidos que foram transportados e trabalhados manualmente, um a um. Com isso, o artista também expõe a mão de obra barata chinesa.
Outro trabalho que enfatiza a produção em massa a baixo custo é o “Sunflower Seeds”. Exibido pela primeira vez no Tate em Londres, a instalação conta com 100 milhões de sementes pintadas à mão por artesãos de Jingdezhen. As sementes representam a paz, o renascimento e a reprodução desenfreada chinesa.
Denunciando o descaso e a destruição do patrimônio chinês por parte das autoridades, Ai Weiwei destruiu, em 2011, um vaso de 2.000 anos da Dinastia Han, jogando-o no chão. O ato foi fotografado e é exibido na mostra da Oca através de três painéis que mostram a imagem fotografada e montada com peças de lego. Outros vasos também foram pintados e descaracterizados pelo artista.
Fora da Oca, podemos ver a “Forever Bicycles”, em que várias bicicletas de aço inox são cuidadosamente empilhadas, fazendo alusão ao trabalho repetitivo e à multiplicação.
A exibição na Oca conta com 70 trabalhos, sendo 15 inéditos feitos no Brasil. Desde o ano passado no Brasil, o artista realizou um trabalho de pesquisa com consultoria da designer Paula Dib. Dessa maneira, foi possível entrar em contato com artesãos, comunidades e manifestações culturais.
Fotos: Trabalho que utiliza o alfabeto armorial de Ariano Suassuna | 200 ex-votos
As referências à cultura brasileira podem ser vistas na instalação com várias raízes de pequi. A árvore está em extinção, e as raízes foram desenterradas na região de Trancoso, Bahia.
Fazendo apologia a seu trabalho “Fuck”, no qual Ai Weiwei exibe o dedo do meio para vários monumentos, principalmente a Praça de Pequim, o artista perguntou ao curador qual era a tradução de fuck para o português e quais seriam as frutas brasileiras com as iniciais dessa palavra, daí surgiu o trabalho FODA: fruta-do-conde, ostra, dendê e abacaxi. Peças de porcelana foram criadas representando as frutas. Não entendi o significado desse trabalho.
Um vídeo mostra uma árvore de 30 metros de altura que foi moldada pelos artesões chineses. Os moldes foram numerados e enviados para a China, onde serão fundidos em ferro. A árvore irá pesar 250 toneladas.
O artista também disse que o Brasil permitiu que ele tivesse sonhos eróticos há muito tempo apagados. A partir de então, decidiu criar uma instalação com sua imagem ao lado de uma mulher, ambos deitados em um colchão. Um vídeo exibe seu corpo sendo moldado. Durante 3 horas, o artista ficou deitado, nu e imóvel, em uma temperatura bastante elevada para permitir a elaboração do molde. Bastante sacrificante.
Ele diz que “a exposição é sobre como sobreviver num mundo órfão sem raízes”. (Isto é, 19/10/2018).
Como mencionado, é a maior mostra do artista já montada. Reservei este espaço para mencionar algumas obras. Na Alemanha o artista tem se dedicado ao tema dos imigrantes.
A mostra está em cartaz até 20 de janeiro de 2019 na Oca e depois será exibida no CCBB em Belo Horizonte.
Imagem capa: Ordos 100, projeto de planejamento urbano feito em conjunto com o arquiteto Herzog & de Meuron. São 27 projetos residênciais de 1.000 m2 desenvolvidos para uma comunidade no interior da Mongólia. (não realizado)
Referências:
Ei Helena. Muito boa sua dissertação sobre esta exposição. E gostei muito de saber que ela vem para BH.
Oi Meire, que bom! Muito obrigada!
Muito bacana sua síntese sobre a exposição! do artista Ai Weiwei na Oca
Gostei bastante dos seus comentários!
Parabéns !!
Obrigada, sempre estou publicando textos interessantes. Espero de rever por aqui. Abraço,
Parabéns Helena, terei outros olhos e visão ao visitar a seguem.
Ainda não fui aqui. A de SP estava muito linda! Que bom que gostou. Bjs