NAN GOLDIN, EX-VICIADA, E OS PROTESTOS CONTRA A DROGA

A famosa artista e fotógrafa Nan Goldin começou a se drogar com heroína nos anos 1970 e 1980, mas foi o Oxycontin que desencadeou sua crise de dependência, com um overdose de fentanil e sua posterior internação em uma clínica de reabilitação em 2017. A droga, fabricada pela Purdue Pharma, da família Sackler, é destinada ao alívio da dor crônica intensa e era comercializada como uma droga “segura”. 

Contudo, uma pesquisa concluiu que houve um aumento de consumo de heroína em pacientes que antes haviam consumido Oxycontin. Foram também atribuídos ao uso do medicamento mais de 200 mil casos de morte por overdose nos Estados Unidos em 1999. O “Center for Disease Control and Prevention”informou que, em 2016, aproximadamente 116 norte-americanos morreram pelo uso de apiáceos.

A artista resolveu, desde sua reabilitação, se tornar uma grande ativista em protestos contra a droga. 

Os Sacklers fizeram fortuna com a comercialização dessa droga e para se redimirem, realizam muitas doações de caridade para várias entidades. Nan Goldin, atualmente, quer que o laboratório Purdue direcione 50% dos seus lucros para o financiamento de tratamentos de dependentes e para educação de uso do medicamento.

O laboratório, que também produz o Valium, disse que a artista se recusa a sentar-se e conversar sobre uma solução. A instituição concorda haver uso excessivo de opioides ilícitos e afirma estar comprometida em fazer parte da solução. Goldin também quer que as instituições não aceitem mais as doações dos Sacklers.

A artista nasceu em 1953, em Maryland. Aos 14 anos saiu da casa dos pais e se matriculou na Escola do Museu de Belas Artes de Boston, onde estudou fotografia. 

Foi em Nova Iorque que a artista lançou sua série mais famosa, “The Ballad of Sexual Dependency”, mostrada inicialmente em 1979. Cenas do cotidiano underground mostram clubes, cinemas, drag queens, pessoas com AIDS, etc., espelhando momentos emocionais e desconcertantes. 

Dez anos mais tarde, a artista entrou para o mercado da moda e começou a fotografar a modelo James King, viciada desde os 15 anos. Algumas fotos são assombrosas, a modelo se mostra com os olhos fundos e tristes. 

Em 1984, a artista publicou um autorretrato: “Nan um mês depois de ter sido espancada”, no qual seu rosto está machucado e o olho roxo.

Quem diria que a artista que considerava o uso da heroína como chique. Trabalhava em cima de modelos viciadas glorificando o vício iria trabalhar contra seu uso alguns anos depois.

Em 1989, muitos dos seus amigos já haviam morrido em decorrência da AIDS ou por overdose; ela se viu sozinha e em crise de identidade. Quando drogada, dizia que tudo era suportável, que os desenhos eram mais automáticos, como se fosse mais fácil acessar seu interior. 

Atualmente, também está atuando no protesto para divulgar o poder destrutivo da AIDS, ajudando na contenção da doença. Também tem planos de colocar fotos, em pontos de ônibus, de pessoas que estão em recuperação do vício em opiáceos.

Na realidade, ela se sente “salva”, em vista da sua geração que se perdeu em meio às drogas. Agora é a luta contra o que ela proclamava meio de vida que torna a sua existência suportável.

https://www.nytimes.com/2018/06/11/t-magazine/a-heroin-chic-photographers-new-project-tackling-the-opioid-epidemic.html

Helena Rios

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