O livro A fotografia como arte contemporânea, de Charlotte Cotton, é escrito sob a forma de oito capítulos. A autora descreve como a fotografia contemporânea vem se desenvolvendo no século XXI, abordando o estatuto da imagem enquanto arte.
No primeiro capítulo, “Se isto é arte”, são mencionados artistas que criaram performances, cenas ou roteiros feitos exclusivamente para serem fotografados. São apresentados limites entre a arte e a vida, e a interpretação toma corpo com intervenções, muitas vezes absurdas, da vida contemporânea.
O segundo capítulo, “Era uma vez”, busca narrar uma história através de uma fotografia construída transpassando sentimentos, mistério e referências a filmes. Quadros inabitados também são apresentados, estabelecendo uma relação entre o espectador e a cena apresentada. O próximo capítulo, denominado “Inexpressivas”, apresenta trabalhos que querem suprimir da fotografia qualquer forma de drama, influenciados pelos artistas Bernd e Hilla Becher. Eles fotografavam caixas d’água e indústrias sempre do mesmo ângulo com uma tipologia e um rigor extremos (o que é mencionado no texto “Museu Serralves: coleção Sonnabend”, publicado neste blog). São citados vários artistas importantes, como Thomas Ruff, Andreas Gursky e Candida Hofer.
Bernd e Hilla BecherThomas Ruff
Em “Alguma coisa e nada”, objetos que nos passam desapercebidos tomam a cena: lixo, roupa suja, poça d’água, tudo é motivo para ser fotografado.
A seguir, no capítulo “Vida íntima”, como o próprio título diz, a intimidade é invadida, sendo documentadas cenas que muitas vezes nos causam emoção e choque.
No capítulo “Momentos da história”, são apresentados trabalhos que documentam de maneira não convencional fatos históricos, muitas vezes revelando o que passou, e não o “momento decisivo”. Assim, objetos de imigrantes são fotografados em vez dos próprios imigrantes.
No penúltimo capítulo, “Revivido e refeito”, artistas posam, criam e mudam de identidade, imitando personagens, anúncios de revistas, filmes ou fotos antigas. Dessa forma, acho importante ressaltar o trabalho de Cindy Sherman. Trabalho que ela se retrata diversas vezes encarnando modelos de filmes e explorando a questão da feminilidade, identidade e estatuto da imagem.
- Fotos da artista Cindy Sherman (retrata a si mesma)
Além disso, antigos métodos são utilizados, e projetos de vidas falsas são apresentados como verdadeiros, colocando em pauta a questão da verdade na fotografia.
O último capítulo, “Físico e material”, envolve as escolhas que cada artista assume na constituição de seu trabalho. Como exemplo o trabalho de Sherrie Levine, que refotografa as obras de Walter Evans e Edward Weston, apresentando-as como suas e intitulando o trabalho “Segundo Walter Evans”(o que é mencionado no texto “Kimiko Yoshida: uma história de apropriação polêmica”, publicado neste blog). O capítulo também mostra como vários artistas usam a tecnologia em beneficio próprio.
A maneira como a autora integra o trabalho de diversos fotógrafos através de suas características e temas é muito didática e interessante.
Uma leitura indispensável para quem quer entender e estudar a fotografia contemporânea.
AUTORA: CHARLOTTE COTTON
EDITORA: WMF MARTINS FONTES, 2013 – 2ª EDIÇÃO
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