DESCASO COM O PATRIMÔNIO CULTURAL

Em primeiro lugar, todos sabem que as verbas destinadas às instituições culturais e educacionais estão cada ano mais escassas. Portanto, o quadro de abandono não podia ser mais explícito diante dos inúmeros desastres que presenciamos ano após ano. 

Além disso, nossa memória é seletiva, e, por sorte, esquecemos coisas passadas para conseguirmos guardar novos acontecimentos. Contudo, neste texto, gostaria de ressaltar como são repetitivas as ocorrências destas atrocidades com o nosso Patrimônio Cultural: 

. 1968 – colégio interno do Caraça: um fogareiro esquecido iniciou o incêndio. Não havia nenhum extintor de incêndio no local e o acesso dificultou a chegada dos bombeiros. Por isso, o colégio interno, que funcionava no Santuário do Caraça, nunca voltou a funcionar. Parte da edificação que era de pedra, foi restaurada, e hoje abriga um Museu.

. 1978 – um incêndio no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro destruiu obras de Picasso, Salvador Dalí e Joaquín Torres-García, além do acervo da biblioteca. Como resultado, um prejuízo que foi estimado, na ocasião, em R$60 milhões, e o Museu permaneceu fechado durante três anos. 

. 1997 – foi a vez do Grande Teatro do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, ser completamente destruído por um incêndio. Portanto, a reabertura se deu em 1998.

. 2008 – o Teatro Cultura Artística, em São Paulo, também sofreu danos irreparáveis devido a um incêndio. Um piano, adquirido no mesmo ano da tragédia por €100 mil, foi completamente destruído.

. 2010 – outro incêndio, desta vez no Instituto Butantan, destruiu os acervos de cobras, aranhas e escorpiões para pesquisa no mundo e no Brasil. Esse incêndio foi tido como culposo (sem intenção). O novo prédio do Instituto foi reaberto em 2013, sendo gastos R$5,5 milhões em equipamentos de prevenção a incêndio. Contudo, os funcionários do Instituto afirmam que várias unidades da instituição continuam com infiltrações e falhas no sistema de prevenção contra fogo. 

. 2011 – o Teatro Vila-Lobos (fundado em 1979), em Copacabana, no Rio de Janeiro, foi incendiado. A reconstrução ainda não foi viabilizada. Foi lançado, novamente neste ano, um edital de licitação para reforma e gestão da casa de espetáculos. 

. 2013 – parte do Museu de Ciências Naturais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais também foi destruída por um incêndio. O acervo de fotos, maquetes e peças de resina, além de uma famosa preguiça gigante, foi comprometido. 

. 2013 – o incêndio foi no auditório do Memorial da América Latina, em São Paulo, reaberto em 2017. A recuperação foi custeada em 42 milhões de reais, assim 90% do espaço, projetado por Oscar Niemeyer, precisou ser refeito.

. 2014 – mais um incêndio destruiu o Centro Cultural do Liceu de Artes e Ofícios em São Paulo. Como resultado, réplicas de obras de Michelangelo foram destruídas, além de quadros, esculturas e móveis. 

O Centro foi reaberto este ano. Segundo o arquiteto responsável pela reforma, as peças metálicas do telhado foram mantidas em caráter ornamental, já que perderam sua função estrutural no incêndio. O galpão, fundado em 1873, se tornou referência pelas oficinas de serralheria, desenho e marcenaria. Lá, foram executadas as esquadrias do Masp (Museu de Arte de São Paulo) e os portais da Catedral da Sé. 

Atualmente, são oferecidos cursos de automação, eletrônica e multimídia. Além disso, duas exposições foram planejadas para a reabertura do espaço: “História e Memória” e “Design Brasil Século XXI”, com curadoria de Denise Mattar. 

. 2015 – o incêndio foi no Museu da Língua Portuguesa em São Paulo. O novo telhado, importado do Peru, foi refeito este ano. A princípio, a expectativa é de que o espaço seja reaberto em 2019. 

. 2016 o incêndio foi na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, destruindo mais de 500 obras. Inesperadamente e por sorte, a maioria contava com cópias com tecnologia mais recente, segundo a coordenadora geral da entidade, Olga Futema. 

. 2018 – agora foi a vez do Museu Nacional do Rio de Janeiro. A instituição foi fundada por D. João VI em 1818 e acabou de completar 200 anos. A saber, seu acervo contava com mais de 20 milhões de itens em paleontologia, antropologia e etnologia.

Sem dúvida, o descaso do Governo com a memória e o acervo do nosso país é notório. 

Fatos repetitivos acontecem em inúmeras instituições e continuam sendo negligenciados: gambiarras nas instalações elétricas, falta de rigor nos procedimentos de segurança, excesso de burocracia nos trâmites exigidos, dribles nas vistorias do corpo de bombeiros (dizem que existem empresas especializadas em enganar a vistoria do corpo de bombeiros), causando estes danos irreparáveis. 

O pior é que, infelizmente, nenhuma tragédia serve de lição. Afinal, a burocracia não muda, os recursos continuam escassos e os projetos não são revisados. 

Nesse meio tempo, ficamos aguardando a chama de um novo incêndio se iniciar e nosso patrimônio ser, pouco a pouco, consumido pelo descaso das autoridades e da população, de um modo geral. 

Novamente, a pobreza de iniciativas e de recursos impera sobre a cultura.

Fotos retiradas da internet

 

Referências: 

As imagens foram tiradas da internet.

https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2018/09/03/bombeiros-seguem-no-rescaldo-da-estrutura-do-museu-nacional-chamas-ainda-podem-ser-vistas-em-alguns-pontos.ghtml

https://www.hojeemdia.com.br/horizontes/incêndio-destrói-acervo-do-museu-de-ciências-naturais-da-puc-minas-1.94342

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/08/destruido-pelas-chamas-centenario-liceu-de-sp-reabre-apos-restauracao.shtml

https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2018/03/5526629-teatro-que-se-transformou-em-ruinas.html#foto=1

https://brasil.elpais.com/brasil/2015/12/21/politica/1450725886_775097.html?rel=mas

https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2018/07/27/palacio-das-artes-comemora-20-anos-de-reabertura-apos-incendio-que-destruiu-o-grande-teatro-em-belo-horizonte.

https://www.hojeemdia.com.br/almanaque/há-20-anos-o-palácio-das-artes-sucumbia-ao-fogo-1.456335

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Helena Rios

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