SENHOR CAI NO BURACO, OBRA DESENVOLVIDA POR ANISH KAPOOR

A trajetória do artista Anish Kapoor emociona. Sobretudo, ele é, sem dúvidas, um artista inovador, que não tem medo de arriscar e mudar, convertendo seu trabalho em pura experiência. 

Nascido em Bombaim, Índia, em 1954, o artista britânico foi um dos ganhadores do importante Prêmio Turner. 

Desde o início de sua carreira, ele discursa sobre a busca  do “não objeto” e se mostra interessado em grandes escalas e na escuridão.

Anish Kapoor coloca que o importante é a maneira como o objeto se comporta no espaço, entre o material e o imaterial, entre o interior e o exterior, o homem e a mulher, o negativo e o positivo. No processo, o ritual e o cultural importam na constituição do trabalho.

Na busca por um preto que absorvesse 99% da luz, Kapoor partiu para a pesquisa em nanotecnologia. A partir daí, surgiram espaços com buracos negros indefiníveis, onde a ilusão e as inverdades estão em jogo; onde, diz o artista, “toda ficção deve ser questionada”. 

O trabalho “Descendo para o Limbo”, hoje em exibição no Museu Serralves, é um belo exemplo dessa ficção. A obra contou com um acidente inesperado no mês passado. Um senhor de 60 anos caiu no buraco de 3,3 m de profundidade, tendo-o confundido com um tapete preto. Neste caso, pode-se dizer que a intenção do criador dessa instalação – enganar através da ilusão de óptica – foi alcançada com louvor. Por sorte, o espectador acidentado teve somente pequenos ferimentos. No entanto, a visitação ao Museu Serralves aumentou consideravelmente.

Anish Kapoor descreve esse trabalho como um entendimento de si próprio: “descer ao interior de si mesmo”. Somos diferentes interna e externamente, sendo impossível ver nosso interior. A ideia foi criar um espaço que não é o que aparenta ser. 

O trabalho “Memória”, instalado em um museu em Berlim, em grande escala, também enfatiza o fato de o objeto não ser o que parece dentro e fora, assim como nós. Inicialmente, ao entrar no museu, o espectador se depara com uma imensa forma que ocupa quase toda a sala, percebendo a obra externamente. Depois, em uma das salas, uma janela é aberta, possibilitando que a obra seja vista internamente. 

No fazer artístico de Anish Kapoor, o uso da cor é condição para se criar um estado de ser. Em algumas obras, o vermelho cria um horizonte como se estivesse chovendo vermelho. Em outras, o preto cria uma escuridão que ilude. O azul, também usado sem praticamente refletir nenhuma luz ambiente, consegue tornar leve o que é pesado. 

Em 2015, uma de suas obras, “Dirty Corner”, foi vandalizada nos jardins do Palácio de Versalhes. Disseram que a obra lembrava a “vagina da rainha”. O artista, posteriormente, resolveu cobrir as pichações com retângulos dourados que não encobriam completamente as palavras, deixando os rastros do que ocorreu. O britânico considerou que o ato representava a intolerância francesa, considerando o incidente político, e não contra a arte.

No decorrer de seu trabalho, ele também faz uso de espelhos côncavos e convexos. A obra “The Bean”, um grande feijão espelhado, feita em Chicago, se tornou um atrativo turístico, o que chegou a incomodar o artista, que diz que não tinha a intenção de que sua obra se tornasse uma “Disneylândia”. Contudo, ele explica que essa obra é misteriosa o suficiente para tirá-la do âmbito do entretenimento. Há algo de misterioso na escala: “é grande e pequena, dependendo de onde você estiver”. A escala se torna a mais profunda e importante poética. 

Por último, mais uma vez, o artista inova explorando as possibilidades da forma. Instala grandes peças de cera azul ou vermelha no interior dos museus, locomovendo-as. Ao passar pela porta, o bloco de cera toma a forma da porta – o negativo se torna positivo. 

Enfim, Anish Kapoor sempre está fazendo algo que investiga a possibilidade de significado, seja através da escuridão, seja da cor, da perspectiva, da escala, da interação com a arquitetura, da mentira e da sua visão singular. 

Referências | Fotos: 

https://www.youtube.com/watch?v=VE1WKJ_8OTU

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https://glamurama.uol.com.br/escultura-de-anish-kapoor-nos-jardins-de-versalhes-e-vandalizada/#3

https://www.courrierinternational.com/article/exposition-anish-kapoor-quand-lart-devient-danger

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Helena Rios

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